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junho 16, 2023

Agricultura sustentável: a importância do uso responsável de fertilizantes

De: Marcos Fava Neves e Vinícius Cambaúva

Conheça a projeção da safra atual para o mercado de grãos e como a agricultura regenerativa pode ajudar a sua produção.


Produtor em meio à lavoura de milho
Produtor em meio à lavoura de milho

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A safra de grãos 2022/23 no Brasil segue para reta final e os números mais recentes indicam uma produção de 314 milhões de t, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), um crescimento de 15,2% na comparação com o ciclo passado. São 41,4 milhões de t a mais em um ano. Mais do que se impressionar com o volume recorde, é essencial ressaltar os resultados em eficiência: a produtividade média dos grãos também deve ser a mais alta já registrada com 4,05 t por hectare, algo que só foi possível graças ao uso de tecnologias, a digitalização e da gestão por m² com insumos de alto padrão, como os fertilizantes.

Para o próximo ciclo (2023/24), que deve iniciar no 2º semestre desse ano no Brasil, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já divulgou a primeira estimativa em maio, apontando uma produção global de milho em 1,22 bilhão de t, alta de 6,0% em relação a 2022/23, sendo que o nosso país deve praticamente manter o volume em 129,0 milhões de t. Na soja, os números surpreendem, isto porque a produção global deve ser acrescida em 40,2 milhões de t, totalizando 410,6 milhões de t, crescimento de 10,9% no comparativo com 2022/23. Desse total, aproximadamente 40% virá do Brasil: 163,0 milhões de toneladas, uma alta de 5,2%.

Diante deste cenário, o Rabobank estima que o consumo de fertilizantes no Brasil deve crescer 9,8% em 2023, alcançando 45,2 milhões de t, o 2º maior volume da história, ficando apenas atrás do de 2021 (45,9 milhões de t). No primeiro trimestre desse ano, 7,3 milhões de t foram importados pelo Brasil, pouco abaixo das 7,5 milhões de t no mesmo período do ano passado. Embora os fertilizantes sejam uma peça fundamental para busca da eficiência na produção agrícola (ou seja, produzir mais em uma mesma área), o uso responsável e integrado com outras práticas é algo que vem sendo amplamente discutido entre os agentes do setor, especialmente considerando os desafios futuros de aumento na demanda para produção de alimentos e outros agroprodutos.

De acordo com o estudo “Projeções do Agronegócio Brasileiro 2021/22 – 2031/32”, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção de grãos deve crescer 36,6% na próxima década, chegando a 370,5 milhões de t em 2031/32, um crescimento anual de 2,7% e volume adicional de 99 milhões de t. Entre os principais produtos do setor, a soja em grão deve liderar os volumes com produção de 179,3 milhões de t (+ 42,8%). Já o milho deve alcançar 149 milhões de t, crescimento de 32,3%.

A demanda por alimentos e o crescimento populacional global trazem inúmeros desafios e oportunidades para a produção agrícola. Entre os desafios, tornar as práticas agropecuárias mais eficientes ao passo em que se preserva e, adicionalmente, recupera o meio-ambiente é a principal aspiração da sociedade. A perda da biodiversidade, a degradação de solos e o aquecimento global são alguns dos principais tópicos discutidos por organizações globais nos dias atuais.

Práticas que sejam utilizadas de forma exacerbada podem impactar a fertilidade do solo e comprometer as atividades agrícolas. Por conta disso, formas de manejo alternativas têm sido desenvolvidas e implementadas pelos agentes do agro (destaques para a parceria entre instituições de pesquisa, empresas privadas e produtores rurais), dentre os quais se destacam: a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o consórcio de culturas e o planto direto na palha.

Uma vez que o solo é um dos principais recursos da produção agropecuária, técnicas de conservação tem ganhado cada vez mais importância para garantir a sustentabilidade dos sistemas de produção, não apenas do ponto de vista físico como também químico e biológico. O sistema de plantio direto destaca-se pelos seus benefícios que vão além da melhoria do solo, mas também com o aumento do rendimento das culturas e, consequentemente, melhor competitividade do setor.

Entre os benefícios do SPDP (Sistema de Plantio Direto na Palha), estão: 1) proteção do solo e redução da erosão; 2) aumento do teor de matéria orgânica do solo, contribuindo para melhorar as condições nutricionais e a eficiência no uso e/ou armazenamento de fertilizantes; 3) melhora as condições físicas, otimizando a retenção de água e de nutrientes; 4) contribui com processos aleloquímicos que favorecem a biologia do solo; e 5) a manutenção da umidade do solo.

A fim de reunir estas diversas práticas, o conceito de “agricultura regenerativa” tem ganhado força nos últimos anos. Entre as práticas que constituem esse sistema estão: 1) reduzir o revolvimento do solo; 2) manter a cobertura vegetal nas áreas agrícolas; 3) ampliar a biodiversidade; 4) utilização consciente de insumos agrícolas (defensivos e fertilizantes); e 5) rotação de culturas para manutenção da diversidade de espécies no ambiente.

Diante do contexto de alta na demanda global por alimentos, onde o Brasil se configura como um dos principais alvos para elevar a produção e as exportações, os fertilizantes se inserem como um grande aliado da manutenção de áreas preservadas. Isto porque, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ainda existem 130 milhões de hectares de pastagem degrada no país, os quais podem ser convertidos em áreas de agricultura (cultivo de plantas) através da correção dos solos e melhoria das condições de fertilidade, o que pode ser feito associando práticas regenerativas e o uso de fertilizantes. Por meio destas áreas, atualmente pouco eficientes e produtivas, poderemos elevar a oferta de alimentos sem comprometer os biomas preservados.

Ainda, vale lembrar que o Brasil segue ampliando a sua eficiência produtiva nas áreas já agricultáveis. De acordo com a Conab, no período que compreende as safras de 1976/77 e 2021/22, houve um crescimento de 447% na produção de grãos, contra um crescimento de área plantada de 88%. Isso só possível graças ao aumento da produtividade em 191% no período, resultado de muita pesquisa e desenvolvimento em genética, insumos de alta tecnologia, nutrição de solo, agricultura de precisão, sistemas produtivos sustentáveis e regenerativos; e outros.

Nesta semana que marca a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), reforçamos a importância das praticas regenerativas e sustentáveis no campo, integradas ao uso responsável de insumos, como os fertilizantes, que tem um papel de grande relevância para aumento da produtividade no campo. Esse processo contribui para preservação ambiental (não necessidade de abertura de áreas) e para garantia da oferta de alimentos, energia e outros agroprodutos (segurança alimentar).

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP. Especialista em comunicação estratégica no agronegócio.

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